Lilian Senger
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  TOC    TRANSTORNO  

    OBSESSIVO

    COMPULSIVO

As OBSESSÕES  pertencem à esfera do pensamento, das idéias e as COMPULSÕES

 à esfera das ações, dos comportamentos.

No TOC, as OBSESSÕES  aparecem como idéias repetitivas e pensamentos que obrigam

o indivíduo, muitas das vezes, a desenvolver rituais para se aliviar da angústia

provocada por tais pensamentos.

As  COMPULSÕES  são os comportamentos em que a pessoaoa se vê obrigada a fazer

 repetidas vezes a mesma ação , como por exemplo, verificar  várias vezes, se

trancou a porta, se desligou o gás, etc... 
Atitudes como dizer várias vezes as mesmas palavras, rezar, lavar as mãos inúmeras vezes

tomar banho por horas, etc.

Podemos ter as obsessões atuando junto com as compulsões, como no caso do

indivíduo que tem a certeza de que se não rezar por três horas seguidas (ação),

seu pai poderá morrer (pensamento).

 

Saiba mais:

O TRANSTORNO OBSESSIVO COMPULSIVO - TOC foi descrito pela primeira vez por

Esquirol (Psiquiatra francês) em 1838.
Em 1909, Freud descreve a doença através do estudo do caso do “Homem dos ratos”.

Com o avanço da Psicanálise até os tempos atuais, somado ao desenvolvimento da

Psicofarmacologia e da Psiquiatria, o Transtorno vem sendo tratado com obtenção

de resultados positivos.

 

O QUE SÃO AS OBSESSÕES ? 

 

As OBSESSÕES  são pensamentos, idéias, imagens e impulsos indesejáveis, intrusivos

e repetitivos. A pessoa percebe estes pensamentos como sendo sem sentido,

inaceitáveis e de difícil controle.

Estes pensamentos, chamados de pensamentos ruins pela pessoa, geram ansiedade,

sofrimento e a necessidade de neutralizá-los ou eliminá-los.
Esta necessidade de neutralização ou eliminação dos pensamentos gera a

 COMPULSÃO.
 

O QUE SÃO AS COMPULSÕES?

 

As COMPULSÕES são comportamentos ou ações repetitivas como por exemplo:

lavar as mãos várias vezes, tomar banhos prolongados, verificações de portas, janelas,

trancas, se estão devidamente fechadas.
Colocar as coisas em ordem e simetria,  rezar, contar, esfregar as mãos,  piscar os olhos,

limpar excessivamente etc...

O ato compulsivo com seus rituais, tem por objetivo diminuir a ansiedade daquele que

sofre de TOC, só que o transtorno apresenta-se de forma circular:
as  
OBSESSÕES  desencadeiam as COMPULSÕES, que por sua vez reforçam ainda mais

as obsessões e assim sucessivamente, num encadeamento sem fim....

É uma doença de tipo crônico, em que 50% dos casos desenvolvem-se a partir de uma

situação traumática e os outros 50%  aparecem sem associação alguma com evento

traumático.
A doença pode se manifestar de forma abrupta, ou de forma lenta e gradual.
  

O TOC  se instala como doença no início da adolescência ou no início da idade adulta,

mas também pode se desenvolver a partir da infância.
Não existe restrição com relação a classe social, raça e sexo.

 

CAUSAS DO TRANSTORNO

 

Predisposição genética,  somada à Transtornos do Desenvolvimento Infantil e fatores

ambientais.

Algumas características do TOC  podem ser consideradas como fazendo parte do

pocesso natural do desenvolvimento infantil.
Por exemplo: são normais alguns rituais da infância como o de colecionar figurinhas,

carrinhos, bonecas, andar sempre pisando em determinadas linhas do chão, pedir para

o adulto contar a mesma estória dezenas de vezes,​ contar alto , cantarolar a mesma

 musiquinha várias vezes, ver o mesmo filmevárias vezes.
Isto tudo acaba por ajudar no desenvolvimento da criança.

Já em casos em que são observadas atitudes e comportamentos, em que a criança se

atrasa porque teve que repetir determinada ação, não consegue sair de casa, apresenta

gestual repetitivo com as mãos ou pernas, uma lentidão obsessiva,
faz e refaz um dever para chegar a perfeição. Escreve e apaga várias vezes um dever

sem conseguir terminar.
​Nestas situações e outras que os pais observem prejuízos no desenvolvimento de uma

rotina saudável da criança, devem buscar ajuda.

Em alguns casos de rituais em adultos, também podem ser aceitos rituais que a mulher

desenvolve após o nascimento de seu filho.
Desenvolve-se na mãe um estado de alerta que faz com que ela verifique várias vezes

como está o bebê.
Se está vivo, se está respirando, se está com fome, se está com frio, se está se mexendo.
Estas atitudes são muito importantes nesta fase, para a própria sobrevivência do bebê.
​ Torna-se um problema se a partir daí venha a se desenvolver o
TRANSTORNO OBSESSIVO

COMPULSIVO.

 

PENSAMENTOS E RITUAIS LIGADOS A:

 

  • SIMETRIA: alinhamento de objetos, o que se faz para um lado deve ser feito para o outro

lado também.

  • REPETIÇÃO de frases ou de palavras, senão algo horrível pode acontecer.
  • MEDO INTENSO DE CONTAMINAÇÃO por bactérias, virus, toxinas, em banheiros, em

banheiros públicos, por pisos, maçanetas, torneiras.
Desenvolvem-se formas de lavagems demoradas, banhos prolongados, uso de

desinfetantes, álcool.

  • MEDO EXTREMO DE DOENÇAS, como o de estar com  Câncer  ou Aids.
  • DÚVIDAS: nunca tem certeza se fez mesmo o que tinha que fazer. Volta ao lugar

 para verificar, ou faz de novo e de novo ( repetição patológica ).Desenvolvem-se as verificações, rechecagens, recontagens.

  • VERIFICAÇÕES:  medo de atitudes e pensamentos agressivos ou violentos contra

alguém. Checam tudo com medo de que possam matar alguém ou provocar incêndios.

Temem que por sua negligência de não verificar provoquem acidentes horríveis.

  • COLECIONAR: a pessoa têm tendência a acumular muitas coisas inúteis como: garrafas,

revistas, jornais, embalagens, rótulos, livros velhos, pequenos objetos acreditando

que possa vir a  precisar em algum momento.

  • RITUAIS RELIGIOSOS: precisam rezar por muito tempo, beijar os santos várias vezes

e outros tantos rituais para tentar se livrar dos pensamentos pecaminosos.

  • INDECISÃO: apresentam dificuldades em concluir tarefas, ou tomar atitudes. Podem

passar horas pensando se devem fazer alguma coisa ou não.
Se devem ir a tal lugar ou não.

  • PENSAMENTOS SEXUALIZADOS E OBSCENOS, impulsos incestuosos.
  • SUPERSTIÇÃO  com números e cores.       
                                                                             

ASSOCIAÇÃO DO TRANSTORNO OBSESSIVO COM OUTRAS DOENÇAS
 

Já pode se perceber o envolvimento do TOC com o medo e a ansiedade.
Pode também estar associado à :

Depressão, Fobias, Transtorno do Pânico, Transtornos Alimentares, Distúrbios do Sono,

Transtornos de Tiques, Dependência Química.

 

O TRANSTORNO DE PERSONALIDADE OBSESSIVA COMPULSIVA não pode ser confundido

com o TOC.

As pessoas que apresentam este transtorno são pessoas escrupulosas, com mania de

limpeza, de arrumação, são perfeccionistas, fazem e refazem um determinado trabalho

e mesmo tarefas domésticas. Buscam sempre fazer tudo bem e com perfeição.

Apresentam dificuldades para sentir prazer em geral, mas não apresentam obsessões

e compulsões. Não apresentam rituais. A pessoa simplesmente é assim.

 

ALGUMAS COMPULSÕES NÃO SÂO CONSIDERADAS COMO  TOC, como por exemplo :

  • SEXO COMPULSIVO
  • JOGO PATOLÓGICO
  • HIPOCONDRIA
  • ANOREXIA
  • BULIMIA

Não são consideradas como sendo TOC pelo fato da pessoa não ter consciência de

que suas atitudes e comportamentos são inaceitáveis, sem sentido, absurdas e

inadequadas.
​ Ao contrário do que ocorre no TOC, em que a pessoa tem consciência da inadequação

de seus comportamentos e pensamentos.

 

CONSEQUÊNCIAS  DO  TOC NA VIDA DA PESSOA
 

TRANSTORNO OBSESSIVO COMPULSIVO é uma doença que traz um sofrimento muito

grande, e apesar disso as pessoas que sofrem
do transtorno levam muitos anos para procurar ajuda.

ALGUMAS CONSEQUÊNCIAS:

  • Incapacidade de viver uma rotina normal
  • Destruição das relações familiares
  • Baixa auto- estima
  • Sentimentos de vergonha, de menos valia
  • Necessidade de esconder sua doença e sintomas
  • Prejuízos como: perda de emprego, discriminação, destruição de relacionamentos

afetivos (amizades, namoros, casamento )

  • Isolamento e Depressão.

 

VISÃO DA PSICANÁLISE

 

Na NEUROSE OBSESSIVA COMPULSIVA  o  Ego é  obrigado a fazer e a pensar,  ou omitir coisas,

ou será ameaçado por perigos terríveis.

  Ocorre um processo de  REGRESSÃO para a  FASE ANAL-SÁDICA.

Fase esta onde surgem as tendências à crueldade, hostilidade.

Surgem então os conflitos entre:
Agressividade e docilidade
Crueldade e bondade
Sujeira e limpeza
Ordem e desordem

 Sentimentos exagerados de justiça ou de limpeza etc...

Para a PSICANÁLISE,  a aprendizagem dos hábitos de higiene na infância é muito importante

para o desenvolvimento da relação entre o Ego da criança e seus impulsos instintivos.

Assim , a forma dos pais ou responsáveis lidarem com este aprendizado, pode

determinar um desenvolvimento positivo  ou criar problemas futuros.

Além  do processo de  REGRESSÃO,  participam outros MECANISMOS DE DEFESA  como:
 

FORMAÇÃO REATIVA  -  em que os medos são substituídos por ações contrárias.

O  medo de se sujar, é substituido por lavagens constantes. 
Os medos sociais são substituídos por rituais sociais. 
Os tabus são substituídos por rituais de contato. 
O medo de adormecer é substituído por rituais ligados ao sono.

 

ISOLAMENTO -  tipo de  proteção contra sentimentos e percepções que ainda não

tenham sido colocados em sistemas ou categorias.

 

ANULAÇÃO -  de atos ou pensamentos agressivos.
A pessoa repete alguma atividade, mas com intenção diferente, na tentativa de

anular a idéia anterior.
Como exemplo, as contagens, as compulsões de simetria, lavar as mãos, verificações.

 

A HOSTILIDADE NO TOC

 

A hostilidade do neurótico obsessivo compulsivo acaba transparecendo em situações,

em que ele acredita estar protegendo pessoas queridas de riscos imaginários.
Chegam a ser tão insistentes e obcecados, que acabam por aborrecer e atormentar

estas pessoas, ao invés de protegê-las.

Não suportam mudanças de rotina e de mudanças em seus rituais e sistemas, e querem

que as pessoas próximas participem de seu sistema compulsivo.

Isto acaba por gerar irritação e desgaste nas relações familiares, provocando afastamentos

e rompimentos.

 

O PENSAR COMPULSIVO

REMOER questões abstratas.

FUGA DAS EMOÇÕES para o mundo dos conceitos e das palavras.

INTELECTUALIZAÇÃO,  que é a forma encontrada para se fugir das emoções. Acaba

desencadeando respostas agressivas.

Percebe tudo o que as pessoas dizem ou fazem ou como PERDÃO, ou como ACUSAÇÃO,

CONDENAÇÃO.

Induz as pessoas a darem sinais de simpatia ou de desagrado.

Seu comportamento é inautêntico e inflexível.

O PENSAMENTO e a FALA  substituem as emoções ligadas a realidade.

O PENSAMENTO tem um poder diferente do que tem para as outras pessoas:
são impositivos, abstratos, gerais, dirigidos a sistematização ou categorização,

teóricos e irreais.

 

 

COMPORTAMENTO COM RELAÇÃO AO TEMPO

É irracional e compulsivo.                                                                                               
Podem ser morosos e atrasados.                                                                                 
Podem ter medo de começar e  tendência a adiar, postergar. 
Dificuldade na conclusão de tarefas.                                                                                                     
Podem querer que os outros façam tudo por eles, ou ao contrário querem fazer

tudo sózinhos.
Querem fazer muitas coisas ao mesmo tempo. Para não “perder tempo”.

 

A SEXUALIDADE

Podem ver no sexo uma questão financeira ( fantasias de prostituição ) ou de propriedade.
Podem ver o sexo como uma questão de resolver um impulso sexual sómente.

 

ATITUDE FÍSICA

Como os pensamentos se encontram isolados das emoções correspondentes, a

atitude física também fica isolada das emoções.  Aparece então:  rigidez física, frieza,

impassividade, espasmo muscular localizado ou generalizado ou então, frouxidão física.

 

 

O CICLO DO TRANSTORNO OBSESSIVO COMPULSIVO

REMORSO por aquilo que fez, PENITÊNCIA, novas TRANSGRESSÕES.
REMORSO 
 novamente, PENITÊNCIA  , novas TRANSGRESSÕES e assim sucessivamente....

Se preparam para um futuro que nunca chega. Não vivem o presente.
Se apegam aos seus sintomas, já que são conhecidos, temendo as modificações por

serem consideradas como perigosas.

O medo da mudança também pode gerar atitude inversa. Mudar incessantemente.
Ex: nunca terminar uma tarefa e começar outra, começar uma obra e nunca terminar,

começar nova obra.....

 

O TRANSTORNO E OS RELACIONAMENTOS AFETIVOS 

A pessoa que sofre de TOC,  se utiliza das outras pessoas ou de situações para aliviar

seus coflitos internos, assim obscurece os seus verdadeiros sentimentos.
O desenvolvimento das relações objetais maduras é muito complicado e difícil.
Sua atitude é insegura e ambivalente com relação a si mesmo e em relação aos objetos

( gosta e não gosta, quer e não quer ).
Suas emoções apresentam-se de forma inautêntica e morna. Na maior parte das vezes

encontram-se isoladas.

 

TRATAMENTO DO TRANSTORNO OBSESSIVO COMPULSIVO

 

Para a pessoa que sofre  deste transtorno a angústia de não fazer o que a mente impõe,

o que o Ego ordena, é pior do que repetir os rituais por dezenas de vezes.
Costumam levar muitos anos para procurar tratamento, sempre tentando esconder

seus sintomas, seus rituais.

A demora no tratamento leva à intensificação dos sintomas.
Casos mais recentes apresentam melhor prognóstico, daí a importância de buscar

ajuda o quanto antes.

Através do tratamento, os sintomas podem ser controlados e minimizados.
São utilizados medicamentos prescritos pelo médico psiquiatra, associados a

psicoterapia.

Com o uso continuado das medicações, os sintomas e a ansiedade vão diminuindo,

o que facilita o trabalho psicoterápico.

É muito importante no tratamento do TOC  o envolvimento da família, para que ela

possa lidar melhor com os sintomas do paciente e também com o seu próprio sofrimento.

Observação: nem todos os Transtornos Obsessivos Compulsivos, apresentam-se da forma

descrita anteriormente.
O objetivo da descrição é o de dar uma idéia da sintomatologia, para que aqueles

que sofram de obsessões e compulsões (rituais), não adiem seu tratamento.

Quanto mais cedo, melhores os resultados.

 

                                                                      

Fontes consultadas: Otto Fenichel, David H. Barlow,  Freud( vol x) O Homem dos ratos.